Roubos de carga acontecem, infelizmente, com muita frequência no Brasil. E, segundo dados apresentados recentemente pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), é significativo o impacto na economia nacional e no varejo. As conclusões divulgadas mostram um cenário bastante preocupante: a questão afeta, inclusive, a competitividade da indústria.
Dada a relevância do tema e a sua repercussão negativa para a economia, a Fiesp realizou um seminário para debater o problema e as suas possíveis soluções. Durante o evento, o diretor titular do Departamento de Defesa e Segurança da Fiesp, Carlos Erane de Aguiar afirmou que, em função do alto valor envolvido, o roubo de carga acaba por criar um ralo produtivo no país.
Incidência de roubo de carga é preocupante no Brasil
Segundo dados levantados pela Fiesp, quase metade (49,9%) das empresas que transportam carga no país já foram vítimas de ocorrências desse tipo. Para evitar o aumento das despesas e os prejuízos, muitas optam por restringir a sua área de atuação. A gravidade da situação faz com que uma parte delas, inclusive, se veja obrigada a fechar as portas.
Somente no ano de 2017, de acordo com informações da Associação Nacional de Transporte Rodoviário de Cargas e Logística (NTC&Logística), o número de ocorrências de roubo de carga no Brasil passou de 25 mil. Isso representa um prejuízo de mais de R$ 1,5 bilhão para as empresas de transporte.
A incidência de assaltos desse tipo é extremamente preocupante sobretudo no eixo Rio-São Paulo – uma rota de fundamental importância para a indústria nacional. De cada cinco roubos de carga em território brasileiro, dois acontecem nesse trajeto.
Além disso, vale destacar que, embora 80% dos episódios sejam registrados em áreas urbanas, aqueles que ocorrem nas rodovias envolvem valores muito mais altos.
Roubos de carga trazem prejuízos para empresas e para economia
Uma das grandes dificuldades no enfrentamento desse obstáculo reside no fato de que não há segurança nas rodovias brasileiras. Tanto que, em função disso, o índice dessa categoria de ocorrência vem crescendo nos últimos anos.
O roubo de carga traz uma série de custos adicionais às empresas, o que, evidentemente, prejudica o ambiente dos negócios. O elevado valor dos seguros é um bom exemplo de como a insegurança afeta financeiramente as organizações.
Ainda que o setor privado já seja responsável por arcar com 47,9% do custo da segurança pública no país, atualmente, de 12% a 14% do faturamento de um empreendimento que atua na área de transportes é destinado à segurança.
Os altos valores envolvidos, claramente, impactam de forma muito negativa a capacidade produtiva do Brasil. Basta mencionar que, segundo a Fiesp, 36% das empresas desistem de empreender e de realizar novos investimentos em função do perigo nas estradas.
Segurança e tecnologia contra o assalto ao transporte
Em função do panorama negativo, o setor privado vem procurando criar formas de reagir e se proteger do assalto ao transporte. Formaram-se nos últimos anos 69 núcleos dedicados ao combate de roubo de carga apenas no Estado de São Paulo. Eles realizam, por exemplo, patrulhamento em regiões e horários de maior índice de roubos.
Além disso, os núcleos também utilizam ferramentas para o georreferenciamento de ocorrências e prisões – e todas as informações a respeito desses fatos ficam online e podem ser acessadas. As ações se mostraram muito efetivas: nos primeiros quatro meses de 2018, houve uma queda de 14% nos roubos de carga, segundo o Programa de Prevenção, Controle e Repressão a Furto, Roubo, Apropriação Indébita e Receptação de Carga e Valores (Procarga).
Mesmo fora desses núcleos organizados, enquanto a estrutura como um todo não passa por grandes mudanças que reduzam significativamente os assaltos e os prejuízos, as empresas se veem obrigadas a investir em soluções para “sobreviver” ao problema, minimizando custos onde for possível. A tecnologia tem sido uma grande aliada nesse sentido, principalmente através de sistemas de rastreabilidade. Tanto a rastreabilidade de veículos quanto a de produtos podem ser ferramentas interessantes no enfrentamento deste “mal”. A primeira ajudaria a encontrar veículos que participam de roubos de carga, a segunda ajudaria a localizar produtos e identificar a sua origem.
No entanto, os órgãos públicos também têm um papel fundamental no combate ao roubo de carga. Os especialistas no setor defendem a necessidade de uma revisão das leis e uma maior fiscalização do seu cumprimento. Segundo eles, a legislação deve ser focada no receptador de carga e os estabelecimentos que vendem produtos roubados devem ter, efetivamente, as suas licenças cassadas.
Outro ponto importante do combate ao crime nas estradas está ligado aos recursos destinados à segurança pública. A Polícia Rodoviária Federal tem papel fundamental na garantia da prevenção de roubos de carga. Contudo, autoridades do órgão dizem que dependem do aumento do número de policiais e de investimentos na modernização da estrutura. Seria necessário, por exemplo, um sistema de acionamento mais rápido e eficaz para o atendimento das ocorrências.
Enquanto não existem ações nesse sentido para solucionar o problema, cabe ressaltar ainda que, além do prejuízo para a economia nacional, no fim da cadeia, quem acaba pagando a conta é o consumidor. O impacto dos danos e das despesas relacionados ao roubo de carga recaem também sobre a população que paga mais caro pelo que consome.
Rumos do transporte para um Brasil mais produtivo
Diante do cenário apresentado e considerando o momento de incertezas na economia e política do país, pode parecer difícil aliar capacidade produtiva e resultados quando se perde tanto em uma etapa fundamental da cadeia, o transporte. De toda forma, acreditamos realmente que existam, minimamente, formas de atenuar o impacto para as empresas que possuem a gestão de cargas como parte de sua operação.
Investir em tecnologia e gestão eficiente, neste caso, é essencial. Assim, atua-se onde é possível como negócio: reduzindo custos e minimizando riscos. Quanto ao resto, cabe esperar por medidas mais efetivas para proteger os negócios e permitir um Brasil mais produtivo.