Uma das principais características do agronegócio brasileiro é o fato de as empresas serem familiares. Isso significa que as famílias são, sem dúvida, um dos grandes pilares da produção agrícola e pecuária do país. Sendo assim, a sucessão familiar no agronegócio tem uma enorme importância para o sucesso do setor.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou recentemente os dados consolidados do Censo Agropecuário de 2017. Embora o levantamento mostre que a agricultura familiar tenha encolhido um pouco nos últimos anos, 77% dos estabelecimentos agropecuários do país ainda são classificados dessa forma.
Sendo assim, a sucessão familiar no agronegócio é um dos aspectos fundamentais para o crescimento do setor. No entanto, ela também impõe uma série de desafios para esses empreendimentos.
Desafios da sucessão familiar no agronegócio
A história da maioria dessas famílias se confunde com a história da fazenda e com o amor pelo campo. Isso torna a abordagem da transição da empresa muito mais complexa.
Infelizmente, é muito comum ouvirmos relatos de prejuízos eu desentendimentos em casos desse tipo. Isso acontece quando não há planejamento, formalização nem profissionalismo no modo como a situação é conduzida.
Antes de mais nada, é preciso entender a necessidade de abordar de forma separada os três pilares envolvidos: a família, a propriedade e a gestão do negócio. Muitas vezes, esses elementos se misturam, comprometendo o êxito da sucessão familiar no agronegócio.
Mas, com planejamento e entendimento antecipado entre as partes envolvidas, é possível superar desafios como o despreparo e a falta de experiência dos sucessores, o temor do patriarca com relação à valorização do seu patrimônio ou a diferença entre as visões da velha e da nova geração.
Por que preparar as próximas gerações para a transição?
Além de desejar que a empresa rural continue sólida e orientada ao crescimento, também se espera que a família siga unida, que os conflitos sejam minimizados e que os seus fundadores tenham os seus direitos garantidos.
Se optarem por realizar uma sucessão familiar no agronegócio mantendo a gestão do empreendimento, a nova geração precisa estar preparada para trabalhar em sociedade. Isso é fundamental para evitar conflitos que possam comprometer o sucesso do negócio.
A falta de preparação dos sucessores pode levar tanto a desentendimentos familiares quanto à falência da sucessão. Por outro lado, existem estratégias que permitem que uma empresa rural passe de pais para filhos (ou de avós para netos, etc) com a manutenção da harmonia familiar e da sustentabilidade financeira da empresa.
Como preparar um plano de sucessão familiar no agronegócio
É muito comum que a sucessão familiar no agronegócio seja discutida somente após o falecimento do patriarca ou da matriarca da família. Contudo, se não for realizada no momento adequado, as chances de atrito aumentam, o que dificulta o entendimento nas relações pessoais e, portanto, coloca em risco a continuidade do empreendimento.
A transição deve ser pensada com antecedência e não realizada às pressas por pressões externas. A sucessão é muito mais eficiente quando é feita no momento correto. E esse seria, sem dúvida, com a presença da geração que está no comando e que passará o “bastão”.
Existem alguns fatores que precisam ser levados em considerações para que se formule um plano de sucessão familiar no agronegócio. O planejamento deve se basear em pontos como o tamanho da estrutura familiar, a cultura da família, os objetivos e os interesses profissionais dos seus componentes e a competência dos sucessores que desejam tocar os negócios.
Implantação de acordos e regras da sociedade
A implementação da transição não é um processo simples e, por isso, leva um determinado tempo para se efetivar. Em primeiro lugar, é necessário que se faça uma reorganização da estrutura de gestão existente. O planejamento sucessório deve iniciar com um diagnóstico da família, do patrimônio e da situação do negócio.
Após uma primeira análise, serão pensados e implantados acordos e regras que irão possibilitar o trabalho dos sucessores. Essas definições passam pela profissionalização da gestão e pela determinação dos papéis para os sócios quotistas (herdeiros e herdeiro/gestor).
Além disso, também há de se considerar um plano de remuneração para os proprietários e os administradores e a organização das funções. Os direitos e deveres dos sócios com relação ao patrimônio e ao negócio também precisam ser acordados. Assim como o estabelecimento de uma forma de comunicação constante entre eles e de como serão realizados os controles gerenciais da empresa.
Necessidade de formalização da transição
Em um segundo momento da sucessão familiar do agronegócio, depois dessas primeiras definições, passa-se ao processo de formalização do que ficou acordado entre os membros da família. Isso inclui a elaboração do contrato social da empresa e/ou da holding e da estruturação tributária e dos acordos societários.
Ao mesmo tempo, também é aconselhável que a transição considere a elaboração de um protocolo familiar e a organização da transferência do patrimônio de uma geração para a outra.
Novas gerações trazem inovação e profissionalização ao agronegócio
Apesar da complexidade da sucessão familiar no agronegócio, atualmente é possível abordar a questão também através de outro ponto de vista.As novas gerações se relacionam muito melhor com as novas tecnologias e, por isso, têm muito a contribuir para a inovação no campo.
Além disso, com uma possibilidade bem maior de realizar uma capacitação formal, os jovens de hoje podem se qualificar de modo a estarem muito mais preparados para assumir o negócio do que estavam os seus pais ou avós no início da empresa rural.
Esses dois fatores garantem uma gestão mais profissional e muito mais alinhada com os princípios da agricultura 4.0. Isso significa que se a sucessão familiar no agronegócio for bem planejada e executada, ela tem tudo para fazer o empreendimento crescer ainda mais.